domingo, 24 de março de 2013

Filosofia – até pg. 17


Na Antiguidade, filósofos como Aristóteles afirmavam que a filosofia nasce do espanto, que nos leva a problematizar, questionar e investigar a realidade. Certas dúvidas levaram ao surgimento do que Aristóteles chamou de Filosofia Primeira, pois investida as causas primeiras de tudo o que existe. Mais tarde, foi chamada de Metafísica, envolvendo essencialmente duas perguntas: “O que é a realidade?” e “A realidade pode ser conhecida?”.
Ser e não ser
A observação da realidade revela muitas aparências, movimentos e transformações. É possível alguém reconhecer a sua própria essência e a das demais coisas, assim como perceber regularidades entre os seres e fenômenos. Essas duas afirmações, inicialmente estavam relacionadas à ordem natural, à origem e à constituição material das coisas. Mas depois se voltaram para questões metafísicas, ligadas à essência, às causas e finalidades daquilo que existe.
Os primeiros filósofos (pré-socráticos) refletiam sobre a realidade (Ser), o nada (Não ser) e as mudanças (devir – vir a ser). Muitos destes buscavam a arché, o princípio material responsável pela geração e corrupção dos seres e de suas qualidades. Conclusões:
Tales – Água
Anaximandro – Apeiron Ilimitado
Anancímedes – Ar
Pitágoras – Números
Empídodes – Fogo, ar, água e terra
Anancágoras – Opostos pequenos
Heráclito – Fogo (tudo flui)
Demócrito – Átomos
Estes seriam os princípios capazes de revelar uma unidade sob a multiplicidade e sob a oposição entre os elementos que compõem a realidade.

Parmênides – “O Ser é, o não ser não é”.
Seguiu outra rota para investigar a realidade. Mostrou sua crença em uma realidade imutável e una, o Ser. Este não foi gerado e nem corrompido. A existência do não ser seria contraditória, pois nada é o que não é, o que não existe. Ele encarava as mudanças como aparências, ilusões geradas pelos sentidos que conduzem o homem pela dóxa, falsa via de opinião. Para ele, o homem deveria seguir a alétheia, via da verdade, na qual o homem seria conduzido pelo pensamento, atingindo assim a realidade. Seus discípulos (eleatas – da cidade de Eleia) desenvolveram suas teses.  Parmênides e os eleatas foram chamados de “imobilistas” por defenderem a unidade e a imutabilidade do ser.
Zenão: é tido como o criador da dialética (método de reflexão que promovia um embate entre opiniões contrárias, a fim de demonstrar a verdade de uma delas, em detrimento da outra. Comparou o Ser à divindade e defendeu a verdade do imobilismo, demonstrando a impossibilidade racional do movimento por meio de argumentos, tais como o da corrida entre o veloz Aquiles e uma tartaruga.
Heráclito – “Tudo é devir, tudo flui”
Conhecido como filósofo do movimento ou mobilista, discordava da tese de um Ser imóvel e eterno. A realidade seria o devir constante e ordenado, a mudança de todas as coisas, que ocorre pela tensão entre os contrários que elas são ou carregam. Assim, a ilusão consistiria em acreditar na imutabilidade dos seres, se enganando ao acreditar, por exemplo, que um homem pode se banhar duas vezes no mesmo rio, já que ambos mudam continuamente. Elegeu o fogo como arché pois simboliza a metamorfose, o movimento. Também associou o fogo ao Lógos, uma razão universal, inteligência e lei fixa, responsável pela ordem presente no movimento e nas mudanças que caracterizam o devir – o pequeno cresce, o dia segue-se à noite, etc. O logos ordenaria o devir gerando uma “harmonia de contrários”, afirmando que a realidade se dava desse conflito. A unidade então não estaria nas coisas (Ser) e sim no Lógos, que o filósofo deveria perceber sob as mudanças. A unidade era o processo, o devir constante, mas os seres eram múltiplos, contrários e impermanentes.

Sócrates e Platão
Contribuíram para o surgimento da Metafísica, descrevendo a realidade para além dos limites materiais. Dividiram-na em dois níveis:
- Sensível ou das coisas: Aparente, conhecido pelos sentidos e instável (como o devir de Heráclito).
- Inteligível ou das idéias: Verdadeiro, conhecido pelo intelecto e estável (como o Ser de Parmênides).
 Acessíveis só ao intelecto, as idéias eram consideradas perfeitas, imutáveis, imateriais e eternas. As coisas são unas. Só há uma idéia de Mesa para todas as mesas ou uma única idéia de Justiça para todas as ações justas, mas, entre si, são múltiplas idéias, já que existem relacionadas a todos os seres e a todos os valores, incluindo o não ser. Assim, o “nada” passou a ser entendido como “diferença, alteridade”. Cada uma das idéias era ela mesma, e não era nenhuma das outras apesar de se ligar a elas.
 As idéias também ficaram conhecidas como formas ou essências por fazerem de cada coisa aquilo que ela era. Assim, nenhuma outra característica faria uma mesa ser aquilo que é, pois somente a idéia de Mesa poderia fazê-lo, por se tratar de um modelo perfeito copiado em todas as mesas, apesar das míseras diferenças entre cada uma. As idéias seriam os modelos, paradigmas para todos os elementos do mundo sensível.

Platão
Sob influência de antigas doutrinas como o orfismo e o pitagorismo, Platão acreditava que as almas eram imortais e renasciam no mundo da matéria enquanto necessitavam de purificação. Estas reconheciam a realidade inteligível à qual desejavam retornar e da qual se recordariam por meio da contemplação da realidade sensível. Assim, contemplando coisas belas e ações corajosas, as almas recordariam as idéias de Beleza e Coragem, caminhando para a idéia suprema, o Bem. Isso exigiria grandes esforços, se desprendendo dos prazeres físicos e às paixões descontroladas. O verdadeiro filósofo se destacaria pela busca do conhecimento e pela prática da virtude. Para Platão, a dialética seria o caminho a ser seguido pelo filósofo em busca da compreensão das essências. Seguindo do sensível para o inteligível, em rumo ao Bem. Atribuía o devir ao mundo sensível.

Aristóteles
Discordava de Platão, afirmando que a realidade é única, sendo as formas imanentes e não transcendentes às coisas – inseparáveis dos objetos e não exteriores a eles. A essência de uma mesa sensível estaria nela mesma, e não no mundo inteligível como idéia de Mesa. Assim, chamava a essência de substância, ousía. Esta não era uma idéia, e sim, um sínolo (composto de matéria e forma). Por isso, Aristóteles valorizava a sensação e a experiência como etapas do conhecimento da realidade. A experiência era um conhecimento rudimentar, pois se referia somente ao particular. A Techné, ou arte era mais universal por alcançar as causas dos seres e fenômenos..
 Aristóteles valorizava o papel da experiência, pois ele dividia os conhecimentos em alguns tipos aos quais ela seria necessária em diferentes graus:
-As ciências poiéticas ou produtivas (techné), hoje conhecidas como artes ou técnicas;
-As ciências práticas, ligadas à conduta individual e social (Ética, política, etc.);
-As ciências teoréticas, responsáveis pelo conhecimento racional (Matemática, Física e Metafísica)
A Física aristotélica observava e classificava os seres sensíveis por semelhanças ou diferenças. Aristóteles considerava a etapa intelectual – em que o pensamento buscaria a essência dos seres – como responsável pelo conhecimento mais verdadeiro e importante. Iniciou com a Metafísica, o estudo do “Ser enquanto Ser”, dividindo-o em seres físicos, matemáticos, humanos e o ser divino. Apesar da diferença entre os seres, ele buscou seus aspectos universais. Tratando da substância como sínolo, disse que toda matéria correspondia à potência, à capacidade de assumir diferentes formas, estas que correspondiam ao ato, à realização das diversas potencialidades materiais. Ex: Adulto é a atualização de potência de uma criança, a mesa atualiza o potencial da madeira. O Ser era a substância ou essência; o não ser era uma possibilidade não realizada: a potência; e o devir era a atualização de um potencial.
Aristóteles previa uma ciência para cada substância e a Metafísica para tratar da substância em geral. Dizia que tudo possuía quatro causas (o que, como são, por que e para quê existem):
-Causa material – Elemento que a constitui
-Causa formal – Forma que apresenta
-Causa eficiente – O que a gerou pelo movimento
-Causa final – Finalidade.
Para Aristóteles, Deus seria o primeiro motor imóvel, colocando as coisas em movimento sem se mover. Não era o criador.
Para a Metafísica Cristã, Deus é móvel e causa eficiente, se movendo e movendo a substância. Era o criador.
Dividia a essência/sínolo/substância em:
-Substância primeira: Os indivíduos
-Substância segunda: As espécies e os gêneros a que pertencem.
A espécie seria o conjunto de propriedades comuns entre alguns indivíduos. O gênero seria o conjunto de propriedades comuns entre algumas espécies. Ambos existiriam nos indivíduos como universais. Não poderia haver ciência conhecendo-se apenas indivíduos particulares, devendo-se recorrer aos gêneros e espécies universais, às causas e às categorias. Segundo ele, quatro causas agiriam na substância e nela é que a potência chegaria ao ato. A substância era um sujeito, sendo as outras seus predicados. As diferenças entre as substâncias poderiam ser classificadas sob as mesmas categorias. Exemplo:
-Substância: Sócrates (espécie: homem – gênero: animal)
-Qualidade (característica): Mortal
-Quantidade: Pequeno
-Relação: Menor que Platão
-Lugar: Esteve em Atenas
-Tempo: Viveu antes de Aristóteles
-Posição: Sentado
-Posse: Tem uma túnica
-Ação: Praticava a maiêutica
-Paixão (contraponto para a ação): Sofreu uma condenação
Os predicados da substância, representados pelas demais categorias poderiam ser variáveis de acordo com circunstâncias e causas. Para a substância primeira, eles poderiam ser acidentais. Para a substância segunda, seriam sempre essenciais.
Metafísica na Escolástica
Cristianismo na Filosofia: Abordagem medieval das relações entre e a razão. Surgimento da Metafísica cristã, com temas princ. Sobre Deus e a salvação da alma humana. Se desenvolveu em duas fases no pensamento medieval:
-Patrística: Séc. II ao VIII (Destaque obras Agostinho). Influência platônica.
-Escolástica: Séc. IX ao XV (Destaque obras Tomás que Aquino). Influência aristotélica.
Houveram 5 vias que Tomás de Aquino usou para provar racionalmente a existência de Deus e 4 recorriam à Metafísica aristotélica:
- O movimento do universo deveria ter uma causa
-Todas as coisas seriam causas ou efeitos
-O que era contingente (possível de existir ou deixar de existir) precisava de uma causa não contingente
-Se havia bondade, havia um “Bem em si” que lhe servia de parâmetro.
-A regularidade das coisas não era casual: Havia uma ordem universal a qual revelava uma finalidade.
Portanto, Deus seria o primeiro motor, a causa primeira, a perfeição e a causa final de tudo. A Escolástica investigou as relações entre realidade e linguagem, ocasionando uma disputa filosófica entre espécie e gênero: Querela dos Universais.
Querela dos Universais
Questões políticas limitaram o acesso a obras gregas. Os pensadores estudaram o pensamento aristotélico por meio de obras de dois autores: Porfírio e Boécio. Houve grande interesse pela Gramática e pela Dialética, termo pelo qual ficou conhecida a lógica aristotélica (estudo da estrutura dos raciocínios válidos). Vários pensadores se dedicaram a refletir sobre as relações entre o mundo das coisas (res) e o da linguagem (vocis). Isso gerou uma disputa em torno dos universais (gênero e espécie), com o objetivo de responder a questionamentos resumidos nessa pergunta: Os universais teriam existência própria ou seriam apenas nomes?
Algumas respostas:
-Nominalista: Só existiam coisas singulares. Os universais não passam de nomes.
-Realista: Universais existem como coisas. Os indivíduos de uma espécie eram uma só res, diferindo por acidentes.
-Conceitualista: Existiam os sínolos e os universais eram seus predicados.
-Tomista: Universais existiam antes das coisas (ante rem), como idéias no intelecto divino, nas coisas como essências e fora das coisas como conceitos no intelecto humano.
-Terminista: Universais eram conceitos, termos com realidade lógica (pensamento) e não com realidade ontológica (nas coisas).

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